terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lendo e entendendo o período pré-operatório


"A maioria dos textos de Piaget usa a denominação período pré-operatório para definir a fase de desenvolvimento que vai do nascimento até o início da fase operacional. Entretanto, considerando a diferença observável entre dois momentos deste período, preferimos falar separadamente de estádio sensório-motor, que vai de zero a aproximadamente dois anos e de estádio objetivo-simbólico, que vai de aproximadamente de dois anos até cerca de seis ou sete anos.
A denominação objetivo-simbólico se prende à característica do desenvolvimento próprio desta fase, isto é, diz-se estádio objetivo porque se trata de um momento em que a criança se volta para a realidade exterior, tentando descobri-la, e diz-se estádio simbólico porque é neste momento que a representação mental (especialmente a linguagem) se instala. No período sensório-motor, o desenvolvimento foi centrado na própria criança, mas a partir de aproximadamente dois anos todos os recursos para explorar e conhecer o mundo ao seu redor passam a ser utilizados pela criança; seu interesse se expande do subjetivo para o objetivo. Neste processo de descoberta, a linguagem e as outras funções de representação oferecem uma contribuição importante e, por este motivo, o desenvolvimento tem como característica o fato de ser simbólico.
A partir, portanto, de aproximadamente 18 meses, graças à instalação da representação, a criança se torna capaz de reconstituir ações passadas sob a forma de narrativas, de antecipar suas noções futuras pela representação verbal, de representar cenas vistas anteriormente através do jogo simbólico ou da mímica. A linguagem, o jogo simbólico, a imitação diferida e, provavelmente, os primórdios da imagem mental, concebida como uma imitação interiorizada, vão se organizando.
Esse período é o que maior atenção mereceu de Piaget. Sintetizá-lo é, por isso, difícil, e ainda mais difícil esquematizá-lo em subperíodos. Parece-nos melhor enumerar suas características peculiares, que o diferenciam dos outros estádios, colocando-o a meio caminho das operações lógicas concretas. De início, convém lembrar que a inteligência sensório-motora só é capaz de ligar, uma a uma, as ações sucessivas aos estados perceptuais com os quais se relaciona. Piaget a compara ao filme em câmara lenta, que apresenta uma fotografia estática após outra, mas não consegue dar uma visão simultânea e completa de todas as fotografias. Já o pensamento representacional, graças à sua capacidade simbólica, apreende, simultaneamente, numa síntese interna, única, uma série de fatos. Sendo uma inteligência de ação, a sensório-motora está limitada à perseguição de metas concretas da ação, mais que à busca do conhecimento, enquanto o pensamento representacional pode refletir sobre a organização de seus próprios atos, já que ele é contemplativo da ação, em lugar de ser meramente ativo. Outra característica distintiva do pensamento pré-operacional é sua capacidade para superar o presente imediato, que lhe possibilita, com o tempo, estender seu alcance muito além dos atos presentes, concretos do sujeito e dos objetos presentes, concretos do ambiente.
Finalmente, a cognição representacional pode socializar-se _ e aos poucos se socializa _ por meio de um sistema de símbolos que toda a cultura pode compartir. Ao contrário deste, o nível sensório-motor da cognição está confinado às ações na realidade e não às representações da realidade, sendo forçosamente individual, particular, não compartilhado.
Decorrem dessas transformações pelo menos três consequências: a socialização da ação, a interiorização da palavra graças ao pensamento propriamente dito e a interiorização da ação, que passa a se reconstituir no plano intuitivo das imagens. No nível afetivo, desenvolvem-se os sentimentos interindividuais, como as simpatias e antipatias, o respeito e a irritação com algumas pessoas em particular. A afetividade interior também se organiza neste período mais que antes".

Se as ações são interiorizadas, cabe a nós educadoras, mães, avós, tios (as) observarmos as ações das crianças. O que fazem nossas crianças? Que atitudes estão observando? As ações socializadas estão sendo saudáveis? O que podemos fazer para melhorar o nível das ações observadas pelas crianças? Acho que podemos contribuir e muito!


2 comentários:

  1. Como é bom podermos contar com publicações tão enriquecedoras.

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  2. Obrigada por enriquecer minha prática pedagógica.

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Agradecemos pelo comentário!